A exatamente 80 anos, no dia 21 de julho de 1921, provavelmente uma noite fria como esta , nasceu Madalena Pereira, filha de José Tomaz Pereira e Maria Claudina Pereira, em Jurumirim, município de Rio Casca. Vó Madalena era a caçula de 13 irmãos; e recebeu deles o apelido de Dalica, por isso era muito bajulada. Sempre se vestiu com muito gosto e nunca saía de casa descalço, o que era muito comum naquela época. Muito vistosa, não lhe faltaram pretendentes, andou até de namorico com Suquinho, um amigo da família e que mais tarde tornou-se seu compadre. Mas logo encontrou seu príncipe: Abel Mariano Lana. Ele passava a cavalo pra lá e pra cá só pra vê-la na janela e depois virou namoro sério. E era daqueles só de sofá mesmo e sempre na presença de alguém da família. Mas a vó, mesmo naquela época já dava, às vezes, um jeitinho, umas escapulidas e ia se encontrar escondido com ele na casa da sua Tia. Esses encontros eram emocionantes, pois era quando eles conseguiam ficar um pouco sozinhos e enfim, nem que fosse por alguns instantes... pegavam na mão um do outro. Depois de 6 meses de namoro e 6 de noivado se casaram no dia 2 de outubro de 1937, com apenas 16 anos, e só então, na festa, é que aconteceu o seu primeiro beijo que acreditem, foi praticamente roubado.
Após 11 meses e 4 dias, nasce o primeiro dos seus 20
filhos: José Tomaz Lana. Ainda muito nova e inexperiente,
sempre que ia lavar roupa no córrego, levava o pequeno
Zé Lana num balaio. Em um desses dias, distraída,
devia estar esfregando e cantando, um doido da região
pegou o balaio e ameaçava jogá-lo no córrego
(por pouco nosso Zé Lana não seria um novo Moisés)
mas graças a Deus apareceu Tio Juquita e Tio Nenem, salvando
o menino.
A Vó deve ter passado por muitos outros apertos, pois, daí pra
frente foi difícil parar de ter filhos.
Seu 6º filho, por exemplo, o Ivo, já cansado de esperar sua vez,
não esperou também a parteira e nasceu num urinol. (O que é urinol?
Pinico mesmo. Usava-se muito antigamente)
Um dia marcante na vida do casal Abel e Madalena foi o nascimento do tio Renato, foi uma grande alegria para todos pois coincidiu com o momento exato do nascimento da bezerra Sombrinha, que também era muito esperada. A bezerra significava mais produção de leite e o Renato, mais despesa para família.
Outro parto que a emocionou muito foi o das gêmeas Seny e Senira, pois foi uma surpresa também para toda família. A parteira assustada olhou desconfiada para o Vô Abel e sussurrou: são duas. Foi um alvoroço total. E corre lá a coitada da Tia Bezita para a máquina de costura: haja fraldas!
Imaginem só a vida de uma família com 20 filhos! Tudo muito, muito simples mesmo e com muita dificuldade. Luxo era apenas quando vô Abel ia até Rio Casca e trazia bisnagas de pão para o café, era uma festa só. Os menores chegavam até a sonhar com esses dias e se o pão ficasse guardado por algumas horas só, com certeza alguns "ratinhos" fariam uns buraquinhos. Roupas? Comprava-se uma peça inteira de tecido e tia Maria fazia as roupas para todos. Bom que ficava uma família organizada: todos uniformizados.
Abel foi um grande companheiro e marido exemplar. Assistiu a
todos os partos e cuidava muito bem dos resguardos da Vó Madalena.
Nesses períodos, levantava todos os dias bem de madrugada,
lá pelas 4:00 h da manhã: fazia o café,
o mingau dos filhos menores, tirava leite das vacas, tratava
das criações e preparava pessoalmente a sopa de
galinha para o almoço. Só depois disto acordava
os filhos mais velhos para cuidar dos outros afazeres e ia então
para a roça trabalhar de sol a sol com a enxada.
Aos 41 anos, muito nova ainda, a Vó ficou viúva com 14 filhos
em casa, pois 5 já haviam falecidos e Maria Madalena, já casada,
morava no Rio de Janeiro. Assumiu, então, o trabalho do pequeno sítio.
Muitas vezes foi necessário ela mesma ir ajudar na colheita do café.
E a vida no campo foi ficando cada vez mais difícil sem o chefe da família.
Nosso querido tio Bonifácio sentindo a dificuldade da família
e em busca de novas oportunidades veio para Valadares incentivado e apoiado
pela família Breguês; primeiro trabalhando com eles no comércio
e depois com muito esforço passou no concurso da Cia. Vale do Rio Doce.
Com um emprego melhor e muita coragem resolveu trazer toda a família
para cá. Então alugou um caminhão , para não perder
viagem, levou porcos para vender em Jurumirim, e trouxe a Vó, ainda
não muito convencida de que isso era o melhor para a família.
Os irmãos, todos esperançosos com a possibilidade de poderem
estudar e também conseguirem um emprego melhor. Trouxe toda a mudança,
cachorro, papagaio, galinha....No dia 7 de junho de 1967, a Família
Lana começa sua história em Valadares. E logo, trataram de arregaçar
as mangas. Montaram o Armazém Lana na Av. JK.
A vó sempre incansável ensinava e incentivava
as filhas a fazerem aquelas geléias, doce de leite, bordados,
ponto cruz, crochê, tudo para ser vendido no armazém
onde os filhos mais velhos trabalhavam. Como os menores também
precisavam ajudar, ela saía incansável pela Av.
JK, de comércio em comércio em busca de emprego
para eles. No inicio moravam de aluguel em Paulo Zeni, hoje bairro
Santa Rita, e com pouco tempo, venderam o pequeno sítio
em Jurumirim e compraram uma pequena casa na Rua Ubá,
no bairro São Paulo.
A vó sempre se preocupou muito com a criação e educação
dos filhos, todos foram educados na doutrina da Igreja Católica, mas
com as filhas crescendo sua preocupação se voltou para elas,
pois precisavam ser encaminhadas para o casamento. E o seu grande orgulho hoje é vê-las
todas casadas e muito bem casadas.
A família foi crescendo, crescendo.... e hoje somos a essa multidão: 35 netos, 11 bisnetos... ao todo 86 pessoas. Até hoje a rua Ubá, nº 73 é o nosso ponto de encontro nas noites de domingo. E a Vó está sempre lá para nos receber de braços abertos, para o aconchego de sua companhia. Ela é o nosso elo, nosso porto seguro, nossa chefe. Tudo o que acontece na família passa pelo seu conhecimento, pela sua orientação, sua permissão. Se preocupa com os problemas de cada filho, de cada neto. Todas as nossas alegrias, nossas tristezas são compartilhadas com ela.
Vó, se nossa família é o que é hoje: imensa, linda, alegre, acolhedora, unida, generosa, amiga, honesta e de caráter incontestável, os méritos são seus. Sua garra, sua perseverança, seu amor infinito nos tornaram fortes para continuarmos essa caminhada. A Sra. é uma lição de vida, e isso nos deixa imensamente orgulhosos.
Gov. Valadares, 21 de julho de 2001
OS FILHOS E AS FILHAS |
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1 - José Tomaz Lana 2 - Vicente de Paula Lana 3 - Maria Madalena Lana 4 - Geraldo Pereira Lana 5 - Bonifácio Mariano Lana 6 - Ivo Pereira Lana 7 - Antônio Tomaz Lana 8 - Francisco Pereira Lana 9 - Hermes Pereira Lana 10- Seny Pereira Lana |
11- Senira Pereira Lana 12- Mª da Conceição P. Lana 13- Renato Pereira Lana 14- João Batista Lana 15- Evaldo Pereira Lana 16- Mª Aparecida P. Lana 17- Maria José Lana 18- Maria Claudina Lana 19- Anésio Pereira Lana 20- Mª Auxiliadora P. Lana |
Filha
de José Tomaz Pereira e Maria Claudina Pereira
Nascida em Jurumirim, Município de Rio Casca-MG, no dia 21 de julho
de 1921.
Casou-se com Abel Mariano Lana no dia 2 de outubro de 1937
Teve 20 filhos, onde os nomes foram citados acima.
"Obrigada,
Senhor, pelos meus 80 Anos;
Pela dedicação e amizade de meus irmãos,
filhos, netos, bisnetos, genros e noras.
Pela luz que me ilumina e pelo teto que me abriga;
Pelo tempo que me concedes, pela minha vida saudável;
Pela minha fé. Muito obrigada por tudo, Senhor. "